No imaginário popular, a relação entre irmãos é rica em simbolismos: a semelhança, a repetição, a dualidade, a simetria. Pensando nesses signos, a agência Gamma produziu o curta "Borda do Campo", um relato sobre a infância de duas irmãs que voltam a ter contato depois de muitos anos. Para que pudéssemos reproduzir esses símbolos - da dualidade, da repetição -, a direção de arte foi fundamental no processo. "Procuramos utilizar figurinos semelhantes nas personagens, para que passasse realmente a impressão de conexão e ligação entre as duas", diz a diretora de arte do filme, Aline Bonn.
Foto: Natália Moraes
O filme é conduzido por uma das irmãs, que através de uma narração poética revive os acontecimentos de suas infâncias até a triste separação enquanto a outra, exilada de seu passado, retorna às suas origens, tanto geográficas quanto emocionais. A separação das personagens remete à película de Lars von Trier, "Melancolia", que analisa a distância emocional entre duas irmãs diante do fim do mundo. Para a construção das personagens, as referências foram muitas: desde as irmãs melancólicas e cheias de segredo de "As Virgens Suicidas" até as irmãs cheias de inocência e vontade de explorar o desconhecido de "O Espírito da Colmeia". Ultimamente, as personagens simbolizam aquilo que todas as infâncias passam por: o seu término e a nostalgia que se tem dela na vida adulta.
Filme "O espírito da Colmeia"
O roteirista responsável pela narração, Luciano Simão, teceu um trabalho sentimental em sintonia com a arte do curta, contribuindo para uma identidade onírica e reflexiva, que tornou-se o objetivo deste trabalho desde a sua concepção. "As minhas maiores inspirações, na verdade, não tem nada a ver com o tema central do curta, mas sim com essa atmosfera que ele passa". Com a arte, a fotografia e o roteiro caminhando na mesma direção, tentamos criar um curta etéreo, beirando o onírico, que atua nas bordas do real e do imaginário. Para a diretora do filme, Natália Moraes "a ideia era captar uma atmosfera, priorizar o sensorial ao invés da história em si".
As produções independentes
possuem características peculiares quanto ao seu conteúdo e estilo,
principalmente por oportunizarem a que o cineasta possa expressar com mais
intensidade sua visão artística dentro do filme. Como não tem interferência de
grandes estúdios, normalmente os filmes independentes são feitos com orçamentos
mais baixos, mas isso não significa que ele não possa rivalizar com as grandes
produções hollywoodianas.
Um exemplo de filme independente que pode se tornar um grande sucesso e alcançar
o maior status dentro da indústria cinematográfica, foi “Quem Quer Ser um Milionário”, com a direção de Danny Boyle. Apesar
de a produção ter sido norte-americana, a história contém traços da cultura
indiana, assim como a linguagem, os espaços mostrados e os próprios atores que
participaram do filme.
O diretor americano fez uma
adaptação do livro “Q &A”, do
autor e diplomata indiano Vikas Swarup. O seu processo de confecção, com um
roteiro criativo, bem elaborado e cortes rápidos, conferiu ao filme um grande
prestígio que o elevou a ter sucesso em todos os cinemas do mundo.
A história retrata a vida de
Jamal Malik (Dev Patel), um jovem indiano de 18 anos, que veio de um bairro
pobre da cidade de Mumbai. Ele trabalha servindo chá em uma empresa de call center,
quando um dia é escolhido para participar do programa televisivo "Who
Wants To Be A Millionaire?". O seu desempenho começa a chamar a atenção da
plateia, e levanta suspeita por parte do apresentador e da polícia se o pobre
jovem não estaria trapaceando. Para acabar com as suspeitas, Jamal conta a
história de sua vida, mostrando que as experiências que teve com sua infância
pobre e sofrida nas ruas puderam lhe ajudar a responder as perguntas.
O filme brinca com a temática de
destino, buscando transmitir que tudo pelo qual o personagem passou, terá um
significado para o seu futuro. A produção foi aclamada mundialmente, tanto que
elevou uma produção independente ao status de Melhor Filme no Óscar. Além
disso, obteve no total 10 indicações ao Óscar (vencendo oito das categorias),
supervalorizou seu filme na mídia e chamou a atenção de Hollywood para as
possibilidades que existem fora do cenário norte-americano.
Saiu o primeiro curta da nossa agência! O desafio era fazer um vídeo de um minuto e utilizar a linguagem cinematográfica da nouvelle vague. Depois de muito pensarmos no roteiro, optamos por utilizar a premissa de um dos nossos filmes favoritos da nouvelle vague - Vivre sa vie, do Godard. Para dar esse toque da nouvelle vague utilizamos recursos de fragmentação, quebra da linearidade narrativa, maioria das filmagens nas ruas e a personagem à margem da sociedade.
Em 1968, a história do cinema passava por
um evento inédito. A MGM, estúdio o qual era considerado pelos críticos e
estudiosos do cinema a casa do realismo romântico, financiou um filme que
possuía um final inteiramente abstrato: 2001
– Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.
Aqui, Kubrick produzia sua obra mais
experimental, baseada em um conto de Arthur C. Clarke. Tudo desde a montagem
lendária, passando pelo misterioso monólito e terminando no final abstrato foi
novidade para o cinema ocidental da década de 60 e trouxe, para os anos
posteriores, a liberdade de fugir do concretismo, favorecendo trabalhos
abstratos que podem ser encontrados até hoje no cinema atual.
Porém, uma das cenas mais negligenciadas de
2001 é a que considero a mais
importante. A mais aterrorizante, de todo cinema. O personagem de Gary
Lockwood, Frank Poole, tem que realizar reparos extra veiculares e, enquanto
navega até o lugar danificado, seu módulo de transporte (controlado pelo
computador HAL 9000) corta seu suprimento de oxigênio e o deixa a deriva. Os segundos que se seguem são de puro terror: o espaço infinito, a escuridão, o silêncio. Não há como argumentar contra o silêncio. A ausência de comunicação (escarça no filme por meio de diálogos) causa desconforto no público e é uma experiência raramente encontrada em filmes. Somando isso ao cenário de imensidão e escuridão, leva o espectador a pensar não apenas na mensagem ali passada mas na existência como um todo.
Mesmo assim, a cena é curta. Essa quebra é
muitas vezes esquecida, se analisada ao lado do final do filme. Talvez seja
para o melhor.
A Gamma é uma agência de produção audiovisual e material jornalístico sobre a história e o mercado da sétima arte. Nossa principais referências serão filmes autorais, aqueles que imprimem a visão pessoal do diretor, colocando-o como a principal força criativa do filme. Ao contrário de grandes estúdios, no qual a produção do filme faz parte apenas de um processo industrial.
Uma das primeiras manifestações do cinema autoral foi a Nouvelle Vague, que teve seu ínicio na França nos anos 50,a partir de críticos e diretores como André Bazin, Jean Luc Godard, François Truffaut e Jacques Rivette.
O termo foi cunhado por Truffaut, em 1954, no ensaio "Une certaine tendance du cinéma français" publicado na revista Cahiers du Cinéma, que viria ser a principal difusora do cinema autoral.
Para
a realização do curta, tomaremos como base o cinema de Jean Luc Godard. Em seus
filmes sempre constavam críticas ao imperialismo estadunidense e o sistema
neoliberal, a liberdade estética, uso de jump cuts, uso criativo da montagem,
filmagens nas ruas (em oposição a estúdios) e a não linearidade do tempo. Nas
palavras do diretor Luís Rosemberg, no livro Godard, Jean Luc “O cinema de Godard é uma permanente
renovação das folhas de um grande jardim de infância: o Ocidente. A cada filme,
um brotar de ideias sem fim. Seu reino é a criação moderna. Destruidor da
sabedoria burguesa, não traz consigo a morte, mas a revolução. Na decrepitude
cultural em que vivemos, qualquer texto de Godard é uma lição de resistência,
de repulsa ao conformismo reinante.”
"Masculin Féminin" é uma das obras de Godard que marcaram o movimento.